Com o tema “Transformar Pessoas para Transformar Negócios”, o  Innovation Forum ON, organizado pela ScanSource Brasil, teve nas trilhas paralelas alguns de seus pontos altos. Três delas marcaram a manhã do dia 11 de novembro: foram os painéis de autoconhecimento, liderança e diversidade. 

O que pensamento crítico tem a ver com inovação tecnológica? Essa foi a pergunta que iniciou o debate de liderança, uma das trilhas paralelas da manhã do Innovation Forum ON. Embora seja a nona economia do planeta e até tenha ganhado algumas posições no Índice Global de Inovação (IGI), o Brasil ainda ocupa a 62ª colocação nesse ranking, que tem 131 países. Por que estamos no meio da tabela? 

Para este debate, que foi mediado por Silvia Paladino, jornalista e cofundadora da agência essense, foram convidados nomes que entendem de inovação e liderança. Participaram do painel: Rodrigo Guerra, economista e sponsor do Projeto Unbox; Fabiano Ornelas, diretor sênior de canais da Dell; Frederico Tostes, country manager da Fortinet no Brasil, e Marco Aurélio Versignassi, diretor de vendas da ScanSource.

Fabiano Ornelas (Dell), Rodrigo Guerra (Unbox), Frederico Tostes (Fortinet) e Marco Aurélio Versignassi (ScanSource)
“Tudo é pra ontem, tudo é urgente. Por isso, criar um espaço para que os funcionários tragam o lado criativo pode ajudar a tirá-los da zona de desconforto,  onde  tudo é automatizado”, foi o que disse Fabiano Ornelas (Dell) no painel sobre Liderança, que também teve a participação de Rodrigo Guerra (Unbox), Frederico Tostes (Fortinet) e Marco Aurélio Versignassi (ScanSource).

Para começar a conversa, Rodrigo Guerra recebeu a tarefa de definir o que é inovação. “A inovação é a exploração, com sucesso, de novas ideias e novos conceitos”, explicou ele, destacando que fazer uma tarefa de forma, mas eficiente, também é uma maneira de inovar. “A grande chave do pensamento inovador é não seguir de forma irrefletida uma manada de tendências. Então, a gente precisa ser protagonista, precisa refletir. Se você consegue trazer esse conceito para os negócios, consegue sair na frente”], defendeu ele.

Fabiano Ornelas concordou, aproveitando para destacar que vivemos na época do excesso de senso de urgência. E isso pode atrapalhar a inovação, uma vez que é natural que profissionais busquem respostas já conhecidas, ainda mais num contexto que demanda decisões rápidas e frequentes. “Tudo é pra ontem, tudo é urgente. Você manda uma tarefa e logo cobra no Teams, no Whatsapp, tudo é importante. Por isso, criar um espaço para que os funcionários tragam o lado criativo, tragam ideias inovadoras, pode ajudar a tirá-los da zona de desconforto,  onde  tudo é automatizado”, disse o diretor da Dell.  

Em uma de suas intervenções, Marco Aurélio Versignassi destacou a importância da diversidade das equipes para a inovação. “Porque se contratarmos só gente que pensa da mesma maneira, caímos na tal da manada.Quanto mais [diversas as] opiniões, mais curiosidades, mais coisas novas, mais a gente consegue injetar a inovação pelas muitas áreas da empresa”, disse.  

Frederico Tostes lembrou ainda dos desafios para inovação que foram criados pela pandemia, ao modificar o mundo inteiro e acelerar a transformação digital. “O que era para acontecer em cinco, dez anos, aconteceu em seis meses. Toda a infraestrutura migrou rapidamente, empresas pararam de funcionar de um dia pro outro e tivemos uma velocidade de migração para a nuvem que foi absurda”, disse, destacando os desafios desse cenário. 

Atitude inclusiva: a reprogramação da cultura organizacional

A diversidade no ambiente corporativo foi o tema de outra das trilhas paralelas que marcaram a manhã do Innovation Forum ON.  Segundo a pesquisa “Diversity Wins”, da consultoria McKinsey & Company, empresas que apresentam maior diversidade de gênero em seus times executivos têm uma probabilidade 25% maior de serem mais lucrativas do que aquelas menos diversas. Os números também são reveladores  quando o assunto é diversidade étnica: nesse caso, a probabilidade de lucro maior é de 36%.

eni Oliveira (ScanSource), Cynthia Zanoni (Microsoft), Tatiana Veneroso (Cisco)
“Quanto mais gente com pensamentos diferentes, quanto mais etnias diferentes, religiões diferentes, mais conhecimento estamos trazendo para dentro da empresa”, disse Leni Oliveira (ScanSource) em painel sobre diversidade, que ainda contou com as presenças de Cynthia Zanoni (Microsoft) e Tatiana Veneroso (Cisco)

Mediada por Cylene Souza, jornalista, sócia-fundadora e diretora-executiva da Agência Lightkeeper, o painel teve a participação de Cynthia Zanoni, estrategista de Tecnologia na Microsoft e fundadora da WoMakersCode; Leni Oliveira, do Comitê de Diversidade da Scansource; e Tatiana Veneroso, responsável pelo desenvolvimento dos Parceiros na Cisco do Brasil.

Para começar o debate, a mediadora perguntou: diversidade e inclusão, embora sejam conceitos complementares, têm diferenças? Quem começou respondendo foi a Tatiana Veneroso, que garantiu: nós somos seres diversos e com peculiaridades. “A inclusão é o respeito, é criar um ambiente em que seres diversos possam pertencer e prosperar. E ser inclusivo no mercado de trabalho significa ter estratégicas para garantir que todos os profissionais tenham oportunidades iguais de crescimento num ambiente seguro”, defendeu ela. 

Cynthia Zanoni, que gerencia projetos de inclusão de mulheres negras na área de tecnologia, destacou que não basta falar que o setor é uma área para todos. É preciso agir, afinal, a carreira, até mesmo pelos investimentos necessários na formação do profissional, ainda é vista como uma escolha para a elite. “É preciso conscientizar as empresas. Existe uma zona de conforto de só reclamar que não existem profissionais capacitados no mercado e, na prática, não se envolver em ações para mudar esse cenário, disse ela. 

Ao ser questionada sobre como lidar com a rejeição à ideia de diversidade, um conceito que ainda é visto de forma negativa, Leni Oliveira não se intimidou e tocou no racismo velado do dia a dia, que, muitas vezes, existe por falta de conhecimento e de educação. “Às vezes, o colaborador até diz que não é racista, garante que não está segregando o colega, mas faz isso por causa de uma cultura que vem de muito tempo. Ele sequer percebe”, diz ela.

“Quanto mais gente com pensamentos diferentes, quanto mais etnias diferentes, religiões diferentes, mais conhecimento estamos trazendo para dentro da empresa. E os colaboradores precisam entender essa riqueza.  Não podem lidar com diversidade como uma  questão de minoria. Somos todos diversos, todo mundo tem uma diferença. E é preciso entender essas diferenças, completou Leni Oliveira.

A estafa do digital: evitá-la ou viver com ela?

Mediada por Wagner Hilário, head de projetos da agência essense, a trilha de autoconhecimento falou de algo que praticamente todo mundo já enfrentou, ainda mais depois do isolamento forçado pela pandemia:  a estafa do digital. 

Onipresentes no trabalho e únicas opções de entretenimento durante a quarentena, às vezes as telas cansam a vista e, por vezes, também o ânimo. Por outro lado, a pandemia deixou tão claras as vantagens do digital que a tendência é que o trabalho seja cada vez mais híbrido — a realidade anterior simplesmente não existe mais.

Cristina Grilli, Helena Galante, Aline Swensson (ScanSource), Marcia Muniz (Cisco)
“Não passamos o dia inteiro de estômago cheio ou vazio. Dormir é essencial, mas se você ficar 24 horas na cama também vai adoecer. A busca da saúde passa pelo equilíbrio”, foi o que a psiquiatra Cristina Grilli no painel de ética que também teve as participações da jornalista Helena Galante, Aline Swensson (ScanSource) e Marcia Muniz (Cisco)

O painel de autoconhecimento contou com a participação da Helena Galante, jornalista, criadora do podcast Jornada da Calma e editora-chefe da Boa Forma; Maria Cristina Grilli, médica psiquiatra e mestre pela USP; Aline Swensson, diretoria comercial da ScanSource para o segmento Enterprise; e Marcia Muniz, diretora jurídica da Cisco. 

Helena Galante trouxe sua experiência à frente do  podcast Jornada da Calma para comentar o estresse causado pela pandemia. Você pode conversar com líderes espirituais, artistas e executivos e, no fim, todos estão buscando caminhos para viver com menos correria.  Então, se a gente tiver um pouco mais de autoconhecimento, acredito que a gente possa fazer escolhas melhores. Diante dessas escolhas melhores a gente pode desfrutar de sensações melhores no nosso dia a dia, porque, no fim, a gente só quer ser feliz”, disse a jornalista. 

Uma pesquisa da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, revelou que o Brasil tem sido o líder de casos de ansiedade e depressão durante a pandemia. A pesquisa envolveu voluntários em dez países diferentes. Uma pressão que foi sentida pelos líderes e pelos liderados, como bem lembrou Marcia Muniz.“A pandemia trouxe o desafio de você levar o escritório para casa. E isso numa rotina já completamente alterada, de criança fazendo aula e companheiro ou companheira também trabalhando. Isso gera um estresse grande para os colaboradores”, disse ela, que destacou também que não há uma solução que funcione para todo mundo, afinal cada pessoa da equipe tem sua própria realidade: para alguns, um happy hour virtual pode ser só mais um estresse e colaborar para a estafa do digital; para outros, uma fonte de relaxamento. 

Aline Swensson trouxe a experiência da área de vendas para o debate, destacando que a pandemia acabou com a hora do cafezinho. “Era no horário do cafezinho que as maiores relações interpessoais se desenvolviam. Era ali que você, numa reunião com uma pessoa, via e era visto por outras. Você tinha a possibilidade de descobrir e compartilhar coisas novas. Estávamos inseridos nas vibrações que aconteciam dentro das empresas, trocando sentidos, sentimentos, entendendo o ambiente. Hoje, a gente perdeu isso. Apesar das ferramentas contribuírem muito, não tem mais o calor humano, diz ela.

A médica psiquiatra Maria Cristina Grilli disse que sentiu um aumento nos relatos de estresse em seu consultório, incluindo reclamações de colegas, e destacou que é necessário entender que a vida realmente mudou. “Você pode assistir a um filme maravilhoso em uma TV enorme, mas isso não se compara a ir com alguns amigos ou com sua família ao cinema. Porque é uma experiência, não é só assistir”, destaca ela. 

Para a psiquiatra, a resposta está no equilíbrio, em misturar digital e físico. “Não passamos o dia inteiro de estômago cheio ou vazio. Dormir é essencial, mas se você ficar 24 horas na cama também vai adoecer. Todo mundo precisa do sol para aumentar alguns hormônios e também da ausência de luz para controlar outros. A busca da saúde passa pelo equilíbrio”, diz  Maria Cristina Grilli.

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