Antonio Carlos Pina sonhou em ser músico profissional, superou corridas de rua e está na TI desde o TK82. O CTO da Quod não sabe ficar parado e usa cada nova experiência (aprendizado) como fonte de criatividade

Entre aulas de mandarim, muita dedicação ao piano, treino para participar de corridas e o dia a dia no crossfit, Antonio Carlos Pina tem um só objetivo: se estressar. Mas no bom sentido. “É fácil sentar no sofá, comer pizza e rolar o feed do Instagram e do Tik-Tok. Só que a única maneira de se desenvolver é no estresse”, explica ele.

É por isso que o CTO da Quod, empresa de gestão de dados fruto da aliança dos cinco maiores bancos do país, faz questão de sempre desafiar a mente e o corpo. E faz isso também para ser um melhor profissional na área que ama, a TI.

“Tem que experimentar, sempre. Se tiver moleza está errado”, defende ele, que vê um paralelo entre a música, o esporte e o estado de aprendizado permanente exigido pela TI. Mas, para explicar esse raciocínio, é importante voltar ao princípio. No caso de Pina, a história começa ainda na adolescência, num colégio técnico.

É muito difícil encontrar um bom gestor que não tenha também um sentimento de empreendedor. Até porque isso ensina a ter resiliência, ensina que, enquanto você estiver de pé, está na briga

Os acertos também envolvem uma boa dose de sorte

“Eu tive um começo de muita sorte”, diz ele, relembrando o dia em que estava na biblioteca do colégio técnico onde cursava eletrônica. Com 15 anos de idade, qualquer coisa poderia mudar o rumo da carreira. Para Pina, o pontapé foi a visita de um engenheiro do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), que foi ao colégio em busca de um estagiário.

“Ele fazia parte de um grupo de quatro profissionais que estavam montando uma empresa. Tinha engenheiro eletrônico, químico, de produção e um analista de sistemas. Eles vendiam produtos de programação de baixo nível de automação industrial e escreviam à mão. Passavam os códigos para uma secretária, mas ela não entendia os mnemônicos, que, dependendo do garrancho, viravam hieróglifos”, lembra Pina. Foi o professor de telecomunicações que, ao vê-lo na biblioteca, sugeriu que fosse o escolhido. 

“Isso fez toda a diferença na minha carreira, mas poderia ter sido qualquer outro estudante. Eu dei sorte de estar ali”, completa. Mas sorte, para se realizar, precisa estar combinada a resiliência e talento. Os “hieróglifos” eram beabá para o estudante. “Na época eu tinha um TK82, um microcomputador que só conseguia ter alguma performance em linguagem de máquinas, então, eu já estava acostumado com os mnemônicos”, explica ele.

Se o primeiro trabalho foi como uma espécie de digitador, Pina aproveitou a oportunidade e mergulhou em tecnologia. Ficou quatro anos na empresa, que foi quase uma faculdade, e saiu de lá direto para o Cenpes. Da Petrobrás, o passo seguinte foi criar a própria empresa, a InfoLink, provedor de internet fundado nos anos 1990 e que foi pioneiro na área. A veia empreendedora, outro aprendizado do estágio na startup, é uma característica útil até hoje, para ocupar um cargo de gestão e liderança na Quod.

“É muito difícil encontrar um bom gestor que não tenha também um sentimento de empreendedor. Até porque isso ensina a ter resiliência, ensina que, enquanto você estiver de pé, está na briga. A veia empreendedora te ensina a ser criativo, a entregar rápido, porque tem que vender o almoço para comprar a janta. E também que a  equipe é importante. Todas essas são características de um bom gestor”, diz ele.

A vida não pode ser só trabalhar, trabalhar, trabalhar, sem parar. É claro que esse momento, a execução, é importante, mas para ter a próxima ideia é preciso parar

Enquanto estudava e se especializava em tecnologia, Pina também se dedicava à música. Começou a tocar piano por influência da avó — e flertou com uma carreira de músico profissional. Fez curso de regência, estudou harmonia funcional e improvisação, dedicando cerca de quatro horas por dia ao piano (e ainda mais, em épocas de apresentações). Pina tocou em teatros, participou de trilha sonora de novelas e viajou o Brasil por conta da música.

Além do piano, o esporte sempre foi outro fator para lutar contra o comodismo. Aos trinta anos, Pina treinou pesado para encarar a São Silvestre. Terminou a corrida em uma hora, recorde pessoal para a distância e um sonho realizado. Hoje, ele encontra o desafio físico no crossfit e na musculação. Já o desafio mental vem das aulas de mandarim.

“É bastante difícil e eu sofro pra caramba para aprender. Mas sei que esse ato está me dando novas conexões neurais”, diz ele, lembrando que as pessoas não são iguais e têm limites diferentes, então, é importante não se comparar com outros, mas buscar sempre ser a melhor versão de si mesmo. “Vai ter quem aprenda chinês mais rápido, quem corra mais, toque melhor… o que eu quero é ser melhor hoje do que eu fui ontem, sem olhar pro lado”, garante.

Para Pina, esporte e música são quase rituais. Atividades que, além de outros benefícios, estimulam a criatividade e ajudam na melhora profissional: a música ajudou a não temer o diferente e a escutar a si próprio; o esporte a forçar os próprios limites. E as duas atividades deixaram claro a diferença entre ser um executor ou um criador, alguém disposto a encarar o novo e correr riscos. Bater o pênalti sempre no mesmo lado — e com perfeição — ou arriscar um gol de cavadinha.

“Nossa produção nasce no inconsciente, então, às vezes, é preciso tirar o consciente da frente. As pessoas têm ideias andando, tomando banho… esses momentos são de quase meditação. E, importantíssimos, a vida não pode ser só trabalhar, trabalhar, trabalhar, sem parar. É claro que esse momento, a execução, é importante, mas para ter a próxima ideia é preciso parar”. 

Os erros que eu cometi, acho que teria cometido de novo, porque foram eles que me trouxeram aqui

Transformando petróleo em combustível

Pina está na TI desde o TK82. Ele viu o aparecimento do IBM PC, do MS-DOS e da internet. Trajetória que deixou boas recordações e uma base sólida. Pergunto o que ele diria, hoje, ao estudante que aceitou um estágio sem ter a menor ideia do que aquela decisão representaria. Após refletir sobre a sorte que teve, Pina garante: “os erros que eu cometi, acho que teria cometido de novo, porque foram eles que me trouxeram aqui”. 

Mas ele também dá conselhos: se nos anos 80 e 90 a tecnologia mudava devagar, hoje o conhecimento se recicla exponencialmente. A única forma de acompanhar tanta mudança é confiando na inteligência coletiva. Para isso, é preciso conversar com o cara ao lado e com os clientes, nunca se esquecendo que “a verdadeira tecnologia é a que serve às pessoas”. 

Na era da transformação digital e que os dados são frequentemente chamados de novo petróleo, Pina lembra que o petróleo esteve sempre aí, mas era pouco útil até a chegada do século 19.

 “Nem todo mundo sabe transformar petróleo em gasolina. O que o petróleo valia para o homem das cavernas? Nada. Só passou a valer alguma coisa quando a gente conseguiu transformar ele nos derivados”, reflete, fazendo um paralelo com os dados, que estão disponíveis, mas que precisam ser refinados em tesouros de informação. 

Para fazer isso, só mesmo dominando a tecnologia, procurando soluções criativas e buscando o aprendizado constante, seja na TI, na música, no esporte ou em mandarim. Mas, para Pina,não se domina a tecnologia, não se encontram soluções nem se aprende constantemente sem uma boa dose de estresse.

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