Com as empresas buscando expandir suas operações digitais, o mercado se aquece na busca por empresas inovadoras. Porém, a união de duas empresas com suas próprias operações de TI têm aspectos que demandam atenção especial

Aquisições e fusões não são novidades no mercado, mas a presença dos canais digitais — e a necessidade de as empresas adotarem o modelo omnichannel — transformou significativamente a natureza e o propósito desses processos. E, é claro, acrescentou complexidade à unificação das operações que é resultante dessas negociações.

Em abril de 2021, por exemplo, a Cobasi, gigante do mercado pet, anunciou a compra da Pet Anjo, empresa nativa digital que oferece day care, hospedagem, dog walker e serviços semelhantes. O objetivo da aquisição era ampliar seu ecossistema de marketplace, seguindo a estratégia de transformação digital que a empresa iniciou em 2018.

Já o Magazine Luiza vem enfileirando aquisições: os sites Canaltech (tecnologia), Steal The Look (moda) e, mais recentemente, Jovem Nerd (cultura geek) foram agregados ao ecossistema de conteúdo da empresa. A ação está ligada à estratégia de crescimento nos mercados de publicidade digital — no pilar do MagaluAds — e de serviços de tecnologia oferecidos aos parceiros, por meio do Magalu as a Service (MaaS).

“O índice de fracasso no M&A é de 70%, mas entre os 30% que dão certo, a integração de sistemas costuma ser um grande desafio”, Gualtiero Schlichting, CBO da STARK.

“A aquisição do Jovem Nerd fortalece nossa marca, nossa plataforma e nosso alcance de conteúdo. É mais um passo importante no planejamento da empresa para a digitalização do varejo brasileiro”, afirma Eduardo Galanternick, vice-presidente de Negócios do Magalu. Com mais de 5,5 milhões de inscritos no Youtube e cerca de 4 milhões de fãs nas redes sociais, o Jovem Nerd promete se tornar um player expressivo na expansão da marca.

As Lojas Americanas também investem pesado em adquirir novas empresas. Além de fintechs e sites de compra, que já faziam parte do grupo, a empresa adquiriu recentemente a B2W, marca forte de e-commerce na América Latina. Como se vê, o universo de M&A (sigla em inglês para mergers and acquisitions, ou seja, fusões e aquisições) está fortemente norteado pelas perspectivas oferecidas pelos negócios digitais, buscando o fortalecimento de marketplaces e as oportunidades geradas pela produção de conteúdo para estabelecer um verdadeiro omnichannel.

E os sistemas, como ficam?

Uma vez que a tecnologia é o coração de empresas dessa natureza, é natural que a TI mereça uma atenção especial nas fusões. Já desde o momento em que uma empresa maior ou um fundo de investimentos decide olhar para uma empresa como possível aquisição, é importante avaliar como a área de TI está organizada e quais são seus planos.

Três fatores precisam ser contemplados para que se alcance o sucesso da integração de sistemas: a lógica da transação, a estrutura da transação e a implementação

Essa avaliação pode ser feita em consultorias especializadas, entre outros agentes. A STARK é uma delas, e já tem até mesmo um modelo de negócios diferenciado: trata-se de plataforma que oferece “M&A as a service”, com a finalidade de combinar empresas que buscam aquisições com as que anseiam ser adquiridas, numa espécie de “Tinder das fusões”.

“Quando a gente fala entre duas empresas de tecnologia de capital fechado, a integração entre as TIs é pautada com antecedência”, explica Gualtiero Schlichting, CBO da STARK. “O índice de fracasso no M&A é de 70%, mas entre os 30% que dão certo, a integração de sistemas costuma ser um grande desafio”.

Para o executivo, são três os fatores que garantem o sucesso da integração de sistemas: a lógica da transação, a estrutura da transação e a implementação. Ele ressalta que uma consultoria pode ser especialmente útil nesse processo, mas aponta que a análise deve ser começada antes de consumar o negócio. “O pós-deal tem que ser pensado ainda durante a diligência”, diz.

“A aquisição do Jovem Nerd fortalece nossa marca, nossa plataforma e nosso alcance de conteúdo. É mais um passo importante no planejamento da empresa para a digitalização do varejo brasileiro”, Eduardo Galanternick, vice-presidente de Negócios do Magalu.

O que não é recomendado é simplesmente ignorar a TI, acreditando que haverá tempo e condições para resolver possíveis problemas depois da aquisição. Pular a etapa de alinhamento de cultura é um risco e, com a pandemia, isso ficou ainda mais etéreo. A sensibilidade do clima organizacional era percebida no dia a dia e, hoje, com o trabalho remoto ou híbrido, tornou-se mais difícil de aferir. É fundamental, por exemplo, fazer um mapeamento das pessoas-chaves e ter o contrato de retenção delas. Isso deve ser uma condição precedente”, explica Schlichting. 

Além da análise de clima organizacional, o CBO da STARK afirma que é importante manter essas pessoas estimuladas e mostrar que elas fazem parte de algo maior. “É preciso reduzir o nível de incerteza e segurança, mostrando que existe uma política de desenvolvimento de talentos, talvez até vinculando parte do pagamento ao atingimento de metas”, diz.

Para além dessa questão de recursos humanos, há as questões técnicas.“Quanto maior o tamanho do investimento a ser feito, maior a atenção sobre a qualidade da arquitetura disponível”, resume Gualtiero Schlichting. “O investidor vai analisar a robustez da base de dados, a funcionalidade dos sistemas”, completa. Até mesmo uma relação sólida com fornecedores, somada à capacidade de se expandir, é levada em conta. 


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