por Leonardo Vinhas

 

Sem medo de mudanças, a diretora de vendas Enterprise da Scansource vem construindo uma trajetória na qual a coragem vem acompanhada da vontade de descobrir como tudo – dos equipamentos ao relacionamento comercial – funciona

 

Imagine a seguinte situação: você tem 17 anos, acaba de concluir sua formação no ensino médio técnico e recebe uma proposta de emprego em uma cidade grande, para a qual boa parte dos seus amigos também está se mudando. O que você faz? Aceita no ato?

Aline Swensson não foi por esse caminho. Ao contrário, recusou-a e o motivo foi inusitado. “Muitos amigos e conhecidos estavam indo para a mesma cidade e minha mãe achava que isso me deixaria muito presa a um ambiente familiar, atrapalhando meu desenvolvimento. E ela estava certa! Uma semana depois, acabei recebendo uma proposta para ir para outro Estado. Aí, sim, eu e meus pais achamos que seria uma boa, e eu fui”, conta a hoje diretora de vendas Enterprise da Scansource Brasil.

Natural de Pelotas (RS), Aline é filha de químicos – a mãe atuava na área alimentícia e o pai, na sanitária. Inserida nesse universo, ela rapidamente percebeu que sua vocação não estava ali. “Eu tinha verdadeiro gosto por esmiuçar as coisas, entender como elas funcionam. Meu pai tinha um aparelho de som 3-em-1 e ele não me deixava usá-lo de jeito nenhum. Quando eu estava sozinha em casa, pegava o manual para aprender a operar e usar sem que ele percebesse (risos). Depois, aprendi até mesmo a desmontá-lo”, relembra.

 

Tive mentores fantásticos em todas essas empresas pelas quais passei. Em uma delas, a Telesul, tive um incentivo muito grande para estudar marketing e fiz uma pós-graduação na área [que mudou o rumo de uma carreira até então dedicada apenas às ciências exatas].

 

Entre as opções de cursos técnicos que um colégio federal da cidade oferecia, Aline acabou ficando em dúvida entre as opções de agronomia e telecomunicações. Embora tivesse passado em primeiro lugar na opção rural, o gosto por comunicação fez com que ela escolhesse a segunda alternativa. Aos 14 anos, conseguiu seu primeiro trabalho consertando equipamentos em um revendedor de telecom. “Eu me deleitava com aquilo, ia totalmente de encontro à minha vontade de saber como funcionavam as coisas por dentro. E, modéstia à parte, eu ia muito bem”, conta.

Após concluir o curso, recebeu o convite para trabalhar em Porto Alegre, mas não foi. Acabou indo para Curitiba (PR), não sem antes pedir a emancipação dos pais, que a concederam.“Meu pai e minha mãe sempre me incentivaram nesse caminho, só tenho a agradecê-los”, faz questão de dizer. Na capital paranaense, foi morar em uma comunidade com uns amigos, enquanto “batia de porta em porta” em busca de melhores oportunidades de trabalho. Acabou em um laboratório técnico da Intelbras, que já havia se tornado um player relevante no universo de telecom.

Esse emprego a conduziu para outro, em uma das unidades regionais de comercialização da empresa, em São Paulo (SP), sendo que para cumprir suas novas tarefas, teve a oportunidade de passar vários meses na matriz da empresa em São José (SC). Em menos de um ano se tornou responsável por uma área de serviços técnicos e treinamento, que unia as duas atividades que amava: o ato de “fuçar” nos equipamentos e as habilidades de comunicação. “Lidava com mais de mil profissionais envolvidos em instalação e manutenção de sistemas de telecomunicações, era algo que me estimulava demais”, recorda.

 

Eu me considero uma vendedora por opção, engenheira de telecomunicações de formação e marketeira de coração. Meus amigos me dizem que isso até já virou um chavão, mas acredito que resume bem minha atuação profissional

 

Esse desenvolvimento veloz na carreira fez com que a opção por uma graduação em engenharia de telecomunicações fosse natural. Enquanto isso, o universo da TI começou a se fazer gradativamente mais presente. Além da Intelbras, os primeiros anos de carreira trouxeram passagens por alguns integradores que hoje são clientes da Scansource. 

“Tive mentores fantásticos em todas essas empresas pelas quais passei. Em uma delas, a Telesul, tive um incentivo muito grande para estudar marketing e fiz uma pós-graduação na área”, conta Aline. O curso mudou o rumo de uma carreira até então dedicada às ciências exatas; um novo horizonte se abriu. “Meus colegas de curso eram profissionais de todos os ramos: financeiro, varejo e publicidade. Era muito enriquecedor conviver com essas pessoas”.

Na Scansource, ingressou em 2014, inicialmente como gerente de uma unidade de negócios específica, que atuava com o fabricante Extreme Networks. Passou ainda por Infraestrutura e Segurança Física, Comunicações Unificadas até migrar para a área comercial do segmento de Enterprise, do qual assumiu a direção. “Eu me considero uma vendedora por opção, engenheira de telecomunicações de formação e marketeira de coração. Meus amigos me dizem que isso até já virou um chavão, mas acredito que resume bem minha atuação profissional”, diz Aline.

 

Conhecer outras mulheres que estavam à frente de grandes projetos e de empresas de porte, discutindo liderança e empoderamento, ajudou a reforçar e expandir o caráter independente da personalidade de Aline.

 

Luta necessária

É evidente que, em um mundo onde os preconceitos não são exceções, a ascensão profissional de Aline não viria sem dissabores. “Existem desconfortos na posição de diretora que são evidentes. Ainda existe discriminação, isso é fato. A gente percebe, inclusive, que ainda existe uma barreira em relação ao mercado em que atuamos. Há clientes que querem falar com o diretor, o vice-presidente, com o homem que ocupa uma posição mais alta. Infelizmente, ainda existe uma necessidade muito grande de nos provarmos”, relata. 

Embora reconheça as dificuldades, Aline é firme quando diz que não se deixa abalar e atribui isso também a mentores importantes. “Na época em que era gerente da área de Consumer Electronics da Philips Walita, fui convidada a fazer parte de um grupo de executivas. Eu havia conhecido a então diretora do Citibank em uma palestra de gestão de confiança. Ela ficou impressionada por eu ter levado toda minha equipe para o evento, uma prática pouco comum. Ela me convidou a fazer parte desse grupo, mesmo que eu não ocupasse a posição de diretora na época”, conta.

A participação nesse grupo — no qual figuravam profissionais célebres como Amália Sina e Maria Fernanda Teixeira — teve grande impacto em Aline. Conhecer outras mulheres que estavam à frente de grandes projetos e de empresas de porte, discutindo liderança e empoderamento, ajudou a reforçar e expandir o caráter independente de sua personalidade. E também a aprimorar seu estilo de gestão.

 

É preciso ter conhecimento de como nossos clientes atuam, como as alianças com os fabricantes se dão e, então, nos posicionarmos dentro dos nossos clientes de maneira receptiva sem que sejamos intrometidos no negócio dele

 

Dentro do universo de vendas, no qual ela está inserida desde que entrou na Scan, há vários perfis. Existe o vendedor agressivo, que encara o mercado como conquista de territórios; também há o estratégico, que vê a venda como uma construção de relacionamento a longo prazo; e o “guerreiro”, para quem a venda é uma batalha diária. Em qual desses Aline se encaixaria?

“Pensando em distribuição e especialmente no segmento em que estou, eu diria que há um pouco de tudo. Precisamos estar preparados para nos defender da concorrência, mas também há um cuidado com o relacionamento. É preciso ter conhecimento de como nossos clientes atuam, como as alianças com os fabricantes se dão e, então, nos posicionarmos dentro dos nossos clientes de maneira receptiva sem que sejamos intrometidos no negócio dele”, explica.

Ela prossegue: “É um trabalho árduo de conquista, de mostrar diferenciais, e que precisa se traduzir em negócios. Por outro lado, se não tiver a faca nos dentes, esse negócio não acontece”, prossegue. “Por isso digo que é uma composição de todos os perfis. E, por isso, é importante montar equipes comerciais adaptadas para o perfil de cada segmento”. Ao montar equipes, Aline dedica a ela a mesma mentoria que recebeu em momentos decisivos de sua carreira. É uma maneira de fazer com que suas conquistas se estendam para muito além dela mesma.

 

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