A necessidade de ações práticas para reverter o processo predatório que coloca em risco a vida humana no planeta passa por empreendimentos que combinam TI e sustentabilidade

Os móveis da casa já tiveram outras vidas. E também os sapatos e as camisetas. Na era da sustentabilidade, não faltam casos de empresas que se especializaram em reaproveitar resíduos sólidos, transformando lixo em novos produtos. Enquanto isso, outras companhias trabalham para dar o fim adequado ao lixo eletrônico — que não é aquele e-mail indesejado que você recebe no celular, mas produtos que ficam obsoletos e que podem contaminar a natureza se forem descartados em lixões. 

“O lixo eletrônico tem diversos metais pesados, como chumbo, mercúrio e berílio. O seu descarte errado pode levar a contaminação do meio ambiente e, por fim, do próprio ser humano. Uma placa de computador num terreno baldio, por exemplo, é submetida à chuva e outros elementos que acabam reagindo quimicamente e contaminando a água do solo”, destaca  Tereza Cristina Carvalho, coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade da USP. 

“Em primeiro lugar, a empresa deve investir para reduzir o volume de resíduos sólidos produzidos. Depois, deve verificar se existe algum resíduo que tem valor para si mesma ou para o mercado”, diz Tereza Cristina Carvalho, coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade da USP.

A própria USP tem um exemplo no Centro de Descarte de Resíduos de Informática, que coleta computadores e outros equipamentos eletrônicos. “Os equipamentos que podem ser consertados e remanufaturados são usados pela USP ou em projetos sociais”, diz a professora. Ela destaca o Programa Paidéia, voltado para jovens de baixa renda. “Eles conseguiram assistir aulas de informática e programação graças aos computadores remanufaturados”, completa. 

No Brasil, a reciclagem é lei: promulgada há uma década, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) organiza e determina como o país deve lidar com seu lixo. Apesar disso, somos o quinto maior produtor de lixo do mundo e reciclamos apenas 2,1% dos resíduos recolhidos. Esse índice tem permanecido estável nos últimos anos, é divulgado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento e revela um número bem distante do estipulado pela PNRS, que espera que em 2040 pelo menos 20% do lixo coletado seja reciclado e que 72,6% dos brasileiros tenham acesso à coleta seletiva. 

Além de ser sustentável, a reciclagem pode significar dinheiro. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, o Brasil deixa de movimentar 14 bilhões de reais ao não reciclar corretamente seu lixo. 

Um exemplo disso veio da Orla Rio, concessionária que cuida da operação de mais de 300 quiosques de praias no Rio de Janeiro e implementou o Recicla Orla, que já recolheu mais de 150 toneladas de resíduos sólidos. Em 2021, o projeto instalou um ponto de coleta em Copacabana que permitiu a troca de material reciclável por dinheiro (cinco reais para cada quilo). Embora tenha sido uma ação pontual, a medida lembrou que os resíduos sólidos movimentam a economia e geram renda para muitas famílias. Mas, para transformar lixo em cifrões, é fundamental que empresas e sociedade invistam nisso.

Para Felippe Augusto Silva, coordenador de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da C-Pack, que produz bisnagas plásticas para a indústria de cosméticos, um dos primeiros desafios é justamente vencer essa necessidade de investir para cuidar do lixo.“O investimento inicial costuma ser a maior dificuldade. Mas é só depois dele que vem a mudança de cultura dos colaboradores para a destinação correta de cada tipo de resíduos”, diz ele. 

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“São diversas as tecnologias disponíveis aplicáveis ao setor de gerenciamento de resíduos. A maioria delas, e a que mais traz resultados efetivos, se referem às etapas de geração e transporte e beneficiamento para receitas acessórias”, explica Renato Paquet, CEO da Polen.

A C-Pack, que antes enviava 100 toneladas de resíduos para lixões todos os anos, implementou um programa de manejo de resíduos sólidos e, em dois meses, reduziu essa quantidade para a metade. “Agora o valor economizado custeia o projeto dos resíduos orgânicos e hoje enviamos para compostagem o dobro da quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários”, relata Silva.

O que é a logística reversa 

Para as vendas, logística envolve o fluxo físico dos produtos. É todo o processo, desde o momento em que o item sai da fábrica e chega, devidamente embalado e protegido, na sua casa. Já a logística reversa envolve o pós-consumo: são as ações que permitem que alguns resíduos retornem para as empresas, onde serão reaproveitados ou descartados devidamente.

“Em primeiro lugar, a empresa deve investir para reduzir o volume de resíduos sólidos produzidos. Depois, deve verificar se existe algum resíduo que tem valor para si mesma ou para o mercado”, explica Tereza Cristina Carvalho. Ela dá um exemplo envolvendo as rebarbas de sapatos usados, que podem ser reaproveitadas como enfeites de sapatos femininos, mas que para isso precisam ser recolhidos pelas empresas. 

Outro caso de sucesso é o programa Descarte Consciente da RD, que envolve mais de 2000 farmácias das bandeiras Droga Raia e Drogasil. As drogarias do programa têm coletores onde os clientes podem descartar medicamentos vencidos ou que não serão mais usados. Os medicamentos são recolhidos e encaminhados para a incineração, que é a forma correta de lidar com esse tipo de material, evitando a contaminação do meio ambiente.

No Brasil, a reciclagem é lei: promulgada há uma década, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) organiza e determina como o país deve lidar com seu lixo. Apesar disso, somos o quinto maior produtor de lixo do mundo e reciclamos apenas 2,1% dos resíduos recolhidos. 

A tecnologia como apoio para a sustentabilidade 

Quando o assunto é tecnologia, em geral as respostas são múltiplas. É o que lembra Tereza Cristina Carvalho, ao falar sobre as inovações para logística reversa. “Não existe uma solução tecnológica para todos os tipos de resíduos. O que se pode fazer é ter ferramentas de rastreabilidade para acompanhar a destinação de resíduos, principalmente de resíduos pós consumo”, diz ela. 

O Recicla Orla, implementado no Rio de Janeiro, contou com a participação da Polen, uma startup de sustentabilidade. A Polen desenvolveu uma plataforma que permite que a pessoa que deposita o lixo saiba qual foi o destino dos resíduos. “A cadeia de gerenciamento de resíduos sólidos é extensa e possui diversos elos: gerador de resíduos, transportador, beneficiador e destinatário final. Sendo assim, são diversas as tecnologias disponíveis aplicáveis ao setor de gerenciamento de resíduos. A maioria delas, e a que mais traz resultados efetivos, se referem às etapas de geração e transporte e beneficiamento para receitas acessórias”, explica Renato Paquet, CEO da Polen. 

Ele dá o exemplo de uma ferramenta de gestão de resíduos que mostra como é a geração de lixo por dia. “Com essa informação, podem ser detectados os dias com maior e menor geração de resíduos, fazendo com que seu planejamento logístico se torne mais eficiente e te permita reduzir custos”, garante.

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