Manter o modelo híbrido exige muito das empresas – mas não só delas. Integradores e fabricantes têm papel decisivo na adequação e expansão das possibilidades oferecidas pelo aumento do trabalho remoto, e é preciso que cada um assuma sua responsabilidade

 

Mais de 70% das empresas ativarão modelos operacionais digitalmente em 2021, adotando mais automação, colaboração e compartilhamento de conteúdo. Essa é uma estimativa levantada pelo IDC Predictions, um estudo da IDC Brasil que analisa as tendências para o mercado de tecnologia. Na prática, isso pressupõe empresas e usuários ainda mais dependentes da conectividade.

“Se estou numa conferência e meu filho começa a ver um filme em HD no streaming, isso não pode comprometer minha experiência. É a TI, sim, que tem que administrar a rede do usuário. Se eu não estou produzindo por falta de condições estruturais, o problema é da empresa”, diz Renier Souza, da Cisco

“A sala de reunião que não tiver uma experiência de videoconferência será um cômodo sem utilidade na empresa”, afirma Renier Souza, diretor de engenharia da Cisco.“Tem gente que até hoje está em negação, que não aceita o modelo híbrido, mas eu tenho certeza que jamais voltaremos a um trabalho 100% presencial”. 

O palpite do executivo encontra respaldo na realidade: um levantamento feito pelo Gartner junto a grandes empresas em diversos países revelou que 82% dos líderes corporativos planeja manter o trabalho híbrido para suas equipes mesmo depois que a segurança sanitária for restabelecida.

Mas como fica essa ampliação em um país conhecido pela irregularidade e pelas disparidades na qualidade das conexões de telefonia e internet? E a arquitetura de sistemas das empresas, vai dar conta de tanta conexão e integração? Existem oportunidades em meio a esses desafios? É isso que tentamos responder nos próximos parágrafos.

É seguro dizer que problemas de conexão têm mais ligação com má qualidade das redes do que com falta de cobertura.

 

Escritório em casa, responsabilidade da empresa

A espera pelo 5G é notória. Mas enquanto não sabemos quando e como ele estará disponível, é preciso trabalhar com a infraestrutura que se tem. “A rede IP é a mais barata que existe para conseguir operar e o preço a tornou dominante no mercado. As antigas redes ATMs eram de altíssima segurança, tinham muita velocidade, mas o overhead era muito maior que a quantidade de informação que você passava”, diz Valter Klein, coordenador do curso de Engenharia da Computação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 

Klein explica que as empresas de telefonia só mantêm redes legadas na zona rural atualmente, o que já elimina um possível entrave. Mas as dimensões continentais do país têm seu peso na qualidade entregue, influenciando desde a distribuição dos serviços até as normas regulatórias. “Os testes para carregadores de telefone celular no Brasil são os mais criteriosos que existem, justamente porque aqui temos energia elétrica gerada por grupos motor-geradores, linhas de energia muito longas, que vem de hidrelétricas. Então, existem critérios para lidar com essa variação de tensão. Há particularidades que só existem na região amazônica, temos um cenário de infraestrutura muito plural e complexo”, explica.

Então, apesar de algumas particularidades regionais, é seguro dizer que problemas de conexão têm mais ligação com má qualidade das redes do que com falta de cobertura. E, quando falamos de como essa deficiência pode ser resolvida no trabalho híbrido, entra em cena um novo elemento: a TI das empresas.

A inclusão digital se tornou tão importante quanto a social. Veja quantos serviços governamentais já funcionam com um app. Conectividade se tornou oxigênio. Nosso desafio como empresa é ter a capilaridade para chegar na ponta, porque hoje não são todas as pessoas que têm o acesso que temos

Você, TI, é responsável pela experiência do seu usuário.Se eu estou numa conferência e meu filho começa a ver um filme em HD no streaming, isso não pode comprometer minha experiência. É a TI, sim, que tem que administrar a rede do usuário. Se eu não estou produzindo por falta de condições estruturais, o problema é da empresa”, diz Renier Souza. 

O executivo da Cisco lembra que os pilares da continuidade de negócios são segurança e qualidade da integração. Por isso, diz ele, há grandes empresas fechando contratos com operadoras para comprar link separado de internet. 

 

“Os testes para carregadores de telefone celular no Brasil são os mais criteriosos que existem, justamente porque aqui temos energia elétrica gerada por grupos motor-geradores, linhas de energia muito longas, que vem de hidrelétricas”, Valter Klein, da PUCPR.

É preciso aproximar pessoas

Conectividade cria conexões. A afirmação soa óbvia, quase um pleonasmo, mas tem razão de ser. Se o futuro demanda soluções e tarefas mais conectadas, quem não se conecta passa a ser excluído. Por isso, a tecnologia precisa facilitar a inclusão.

“A inclusão digital se tornou tão importante quanto a social. Veja quantos serviços governamentais já funcionam com um app. Conectividade se tornou oxigênio. Nosso desafio como empresa é ter a capilaridade para chegar na ponta, porque hoje não são todas as pessoas que têm o acesso que temos”, explica Renier Souza, da Cisco.

Nessa tarefa, cada integrante da cadeia de TI tem o seu papel. “Tanto o fabricante quanto o integrador precisam disponibilizar soluções de uma forma simples. Não adianta ter uma solução avançada se eu não entendo o que ela faz e não consigo explicar isso para o usuário”, avalia o executivo. 

“Para as empresas, o ponto de inflexão se dá quando ela aceita sua responsabilidade. É quando ela deixa de falar ‘vamos usar uma ferramenta de chat’, e passa a falar ‘vamos usar essa ferramenta’, assumindo integralmente essa escolha. Porque as empresas já perceberam que a [ferramenta] mais baratinha, a mais bonitinha, a freeware, provavelmente não vai oferecer a segurança necessária”, continua o executivo.

Ele cita o lema lead by the example (liderar pelo exemplo) como elemento essencial dessa simplificação e também dessa responsabilidade. “O integrador vai e diz para o cliente que ele precisa ter uma ferramenta segura de colaboração, que as gratuitas que ele usa oferecem risco. Mas aí você vai ver, e ele está falando com o cliente por meio de uma dessas ferramentas que ele mesmo critica!”

Como se vê, há caminhos desenhados para a conectividade em 2021. É verdade que não passam por uma única solução, já que os desafios de cada empresa e de cada região geográfica são muito particulares – como tudo nesta nova era de trabalho, frise-se. Porém, é necessário assumir que não voltaremos a um cenário semelhante ao que tínhamos antes de março de 2020, e vale mais se antecipar para proporcionar o novo, em vez de brigar contra o que está se formando.

 

O futuro é híbrido.., mas precisa melhorar

Global Workforce Survey: The Rise of Hybrid Workplace é um estudo mundial da Cisco sobre os desejos e receios de empresas e trabalhadores quanto a esse novo modelo de trabalho. Entre os resultados, a constatação de que:

  • 66% das empresas apostam no aumento do uso de ferramenta de videoconferência
  • 59% das empresas acreditam na maior adoção de soluções de colaboração (WebEx, Teams e afins)
  • 98% dos usuários estão insatisfeitos com a qualidade das reuniões por vídeo