Por Ricardo Bonon

 

Na dúvida entre dois caminhos, o diretor de Inovação e Tecnologia da Scansource prefere sempre optar pelo que vai trazer maior aprendizado — e acredita que essa é a chave para construir uma carreira que o levou do ambiente acadêmico para o universo da alta gestão

 

E aí, Bonon do futuro? Tudo bem?

Estou aqui em 2021, escrevendo essa carta para você. Imagino que você ainda seja uma pessoa que não gosta de perder tempo, então vou direto ao assunto: continue sempre aberto para o que é novo. Porque essa é a lição mais importante que ficou de tudo o que a gente viveu profissionalmente.

Você deve se lembrar: sua carreira não foi planejada. Pelo menos, não da maneira que esse planejamento é recomendado em todos aqueles manuais de coaching de carreira que você, felizmente, nunca deu bola. Todo o começo era no universo acadêmico, da graduação em Engenharia de Materiais ao mestrado em Dinâmica dos Fluidos Computacionais, todos pela Universidade Federal de São Carlos. 

Ainda nos primeiros anos ali na UFSCar já havia espaço para seu lado desenvolvedor. Era uma coisa bem nerd, mesmo, envolvendo bastante matemática na criação de software científico. Mas você jamais imaginou que chegaria o momento em que isso se tornaria um diferencial de sua carreira. Menos ainda que viria a ser um elemento-chave.

Quando eu escrevo essas linhas, já são quase seis anos na Scansource, onde o aprendizado mais forte tem sido o de que ninguém faz nada sozinho. A visão horizontal, a necessidade de olhar para os lados (e jamais para o umbigo), a necessidade de pensar de forma estratégica em vez de reativa.

Foi quando você ainda estava na academia que recebeu uma oferta absolutamente atípica: trabalhar com o que você gosta na iniciativa privada, recebendo uma remuneração de mercado e não uma restritiva bolsa de doutorado, o que parecia ser o caminho mais provável até aquele momento. Você não pensou duas vezes; entrou como gerente de desenvolvimento de aplicação de produto. Na prática, isso se traduzia como uma espécie de pré-vendas no mercado de polímeros. 

Grandes fabricantes de automóveis e eletrodomésticos vinham até sua área para entender quais os tipos de plásticos que deveriam ser empregados em seus produtos. Você gostava bastante desse aspecto mais técnico – medir resistência, testar durabilidade etc. Porém, o que mais lhe interessava era esse aprendizado de lidar com as necessidades dos clientes, entender o mercado de vendas. Afinal, era algo novo em sua trajetória.

E foi aí que entrou a primeira grande lição: você não tem que vender tecnologia aos seus clientes. Tem que “vender dinheiro”. O cliente não está interessado no nome da tecnologia que você emprega ou no quanto ela é avançada. Ele só quer saber dos benefícios e do retorno financeiro. Ser um purista técnico distancia qualquer desenvolvedor do mundo das vendas e dos bons resultados.

Na dúvida entre duas oportunidades que se apresentam, escolha sempre aquela na qual você vai aprender mais. Aceite sempre a opção com a qual você não está acostumado. O mercado se abre para quem quer dar um passo à frente.

Pensando agora, vejo que essa lição foi tão bem-aprendida que acabou norteando as escolhas que vieram depois. A primeira delas envolveu gerenciar toda a infraestrutura e os processos de TI em uma fusão corporativa e, poucos anos depois, assumir uma gerência global de projetos de TI na Bélgica.

Encerrado esse período no estrangeiro, veio o início de sua carreira como C-level, na qual você está até hoje. Quando eu escrevo essas linhas, já são quase seis anos na Scansource, onde o aprendizado mais forte tem sido o de que ninguém faz nada sozinho. A visão horizontal, a necessidade de olhar para os lados (e jamais para o umbigo), a necessidade de pensar de forma estratégica em vez de reativa: são essas as vivências transformadoras desse momento e que, acredito, serão importantes também para nos anos que estão por vir.

E, sabe… Meus planos aqui, em 2021, para o futuro, continuam abertos. Como eu disse: nunca fomos de grandes planejamentos. Porém, sabemos que abrir-se para o novo é essencial para o crescimento. Não sei quais as escolhas que você acabou fazendo, porque prever o futuro é impossível, ainda mais no mercado de tecnologia. Mas quero acreditar que você escolheu o caminho do crescimento.

Saber resolver problemas nunca sai de moda. E, se você está fazendo isso em nível estratégico, tático e tecnológico, tenho a impressão que não poderia ter havido escolha melhor.

Por isso te digo: na dúvida entre duas oportunidades que se apresentam, escolha sempre aquela na qual você vai aprender mais. Aceite sempre a opção com a qual você não está acostumado. O mercado se abre para quem quer dar um passo à frente.

Eu não me surpreenderia se você já estiver em uma posição com escopo mais complexo. Se foi por aí mesmo, tenha em mente que a tecnologia é a área na qual você sabe trazer valor. Então, mesmo que seja uma função ainda mais estratégica, lembre-se de levar a tecnologia junto. Mas não só ela.

Gostamos de resolver problemas, é parte de nosso perfil. Saber resolver problemas nunca sai de moda. E, se você está fazendo isso em nível estratégico, tático e tecnológico, tenho a impressão que não poderia ter havido escolha melhor.

Eu disse que seria objetivo e acabei me estendendo. Mas tudo bem: acredito que você entendeu que o meu objetivo era pedir que você não deixasse de lado o apreço pela tecnologia e a vontade de aprender. Ainda acho que, com isso, a gente consegue mudar muita coisa para melhor nessa vida.

Ricardo Bonon é Diretor de Inovação e Tecnologia da Scansource
* entrevista realizada por Leonardo Vinhas

 

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