Nesta “Carta ao Meu Futuro Eu”, Vinícius Gusmão, cofundador e CEO da MedRoom, uma startup brasileira que usa a realidade virtual para auxiliar no ensino da medicina, dá conselhos para sua versão de 2031, relembra sua trajetória e garante: vencer é perseverar

Dar conselhos pra você não deixa de ser um exercício de futurologia — e a gente prefere as certezas do método científico. O que esperar da minha versão de 2031? O que dizer para meu “eu” futuro? Primeiro, vou deixar claro que você é um cara legal. E, se você seguiu a trilha que estamos planejando hoje, o mundo é um lugar melhor por causa da sua contribuição. 

Espero que tudo tenha dado certo, mesmo que com os percalços naturais pelo caminho. Quem procura inovar e seguir uma carreira disruptiva precisa estar preparado para as pancadas. Rocky VI ensina: o segredo para ganhar não é o quanto você bate, mas o quanto você apanha e continua seguindo em frente. E você terá seguido —  tenho certeza —, porque força de vontade não te falta. 

Por falar em Rocky, você sabe bem o quanto a gente ama a jornada do herói, que, ao bem da verdade, é mais do que uma forma de contar histórias, é um jeito de enxergar a vida, né?

É a ciência que nos move, que serve de bússola por águas pouco navegadas, de norte na hora mais escura do dia, que nos permite transformar e minimizar os infindáveis riscos que impendem tanta gente de trilhar suas próprias jornadas heroicas

Até porque, nessa vida, não faltam chamados a aventuras e não é fácil aceitá-los de cara, mas, depois de aceitos — pelo menos com a gente tem sido assim —, pouco importa quantos tombos levaremos, o quanto apanharemos, a gente sabe que precisa suportar, seguir em frente e voltar pra casa, cheio de derrotas e vitórias, transformados pelo caminho e prontos para compartilhar o tesouro que conquistamos: a nossa própria essência.

Parece contraditório, mas não é: viver essa jornada de transformação, você entende, é a única maneira de preservarmos a nossa essência. O mundo está em constante mudanças e, se ficamos acomodados, parados no tempo, de repente, nos descobrimos perdidos de nós mesmos.

Por isso, é tão importante aceitar o chamado, encarar o caminho, perder, vencer, superar as provas e “voltar para o lugar de onde viemos”. Coloco assim, entre aspas, porque a expressão é uma metáfora. Literalmente, quero dizer apenas para jamais esquecer a sua essência, afinal, preservá-la é a razão pela qual aceitou fazer a jornada. 

Espero que você, aí em 2031, esteja escrevendo uma história que a gente se orgulhe de contar lá na frente, no final de nossos dias. E que conquiste nossos sonhos, mas sempre ao lado de outras pessoas, porque não dá para fazer nada sozinho. Seja um motor de transformação, de avanço e de prosperidade e jamais impacte de forma negativa a vida de qualquer pessoa que cruzar o nosso caminho.

Encontramos nosso caminho na ciência. Vencemos porque tivemos foco e estávamos sempre abertos para o conhecimento, das aulas na USP aos cursos de negócios e empreendedorismo que fizemos nos Estados Unidos, na época do Ciências sem Fronteiras

Não abra mão do pensamento científico. É a ciência que nos move, que serve de bússola por águas pouco navegadas e de norte na hora mais escura do dia. A ciência é a tocha que ilumina o caminho da nossa jornada, que nos permite transformar e minimizar os infindáveis riscos que impendem tanta gente de trilhar suas próprias jornadas heróicas.

Siga com uma atitude jovem e seja sempre o protagonista de sua carreira. Não terceirize seus desafios, escolhas e aprendizados jamais…

Lembra como a mãe ficou desesperada com as nossas indecisões juvenis? Na época, estávamos no Ensino Médio, “perdidos”, até que veio um professor e nos resgatou. Mas a gente continuou dando trabalho pra mãe: começamos a cursar engenharia civil, mas paramos para cursar análise de sistemas. Depois, largamos análise de sistemas para cursar biologia. Cursamos biologia, mas não trilhamos uma carreira tradicional de biólogo.

Deu certo. Encontramos nosso caminho na ciência. Vencemos porque tivemos foco e estávamos sempre abertos para o conhecimento, das aulas na USP aos cursos de negócios e empreendedorismo que fizemos nos Estados Unidos, na época do Ciências sem Fronteiras. Tudo ajudou, até aquelas aulas de astrobiologia que escolhemos fazer só por prazer. Afinal, ninguém é de ferro.

Você conhece essa história tão bem quanto eu, Vinícius, mas relembrar é reviver. E reviver a nossa história é falar da MedRoom, empresa que nasceu da nossa essência, genuíno fruto da jornada que aceitamos empreender, mas que não empreenderíamos sem o inestimável e inspirador aliado, nosso amigo e antigo sócio Sandro.

Então, tá aí meu conselho final, Vinícius: guiado pela ciência, siga fazendo mágica, para se transformar, a cada jornada, no herói que precisa ser

Lembra quando nos conhecemos? A gente tinha acabado de voltar dos Estados Unidos e estava participando de um evento do núcleo de empreendedorismo da USP. Ele chegou falando de treinamento para médicos com realidade virtual, de como aquilo poderia salvar vidas, mudar o mundo, ser uma oportunidade única. A gente, que só tinha visto realidade virtual na TV, comprou a ideia. Sonhamos com tecnologia de ponta, fizemos um projeto incrível e fomos com tudo para o desafio. Perdemos, perdemos feio, mas o resultado da derrota foi uma imensa vitória: um aprendizado que viraria a MedRoom.

A empresa nasceu e começou a crescer a partir das críticas — de alguma maneira, elas sempre contribuem. Os desafios foram muitos. Primeiro, a captação de investimentos. Depois, a maturação das ideias, a busca por mão de obra capacitada, o escopo que muda, a complexidade que aumenta e a aposta que dá errado. O market fit e os ajustes de rota, sempre necessários. E a pandemia, o congelamento total, as negociações caindo em série, uma atrás da outra. O medo, a ciência para sair do buraco, a pancada, a pancada, a pancada. Ficamos de pé, né? À semelhança do Rocky, vencemos também por obstinação e coragem.

Por trás de toda perseverança, há um toque de mágica: é a vontade de realizar uma ideia que, a princípio, pode parecer ilusão. Há muita ciência nisso também, sabe?

Pensando bem, acho que nossa paixão por ciência já era óbvia desde a adolescência e foi a mágica que nos mostrou isso. Só demoramos para perceber. Lembra de como amávamos espetáculos de ilusionismo? Era a curiosidade científica, cara! Ela já estava ali! Para a gente, não bastava admirar um truque e aplaudir a performance de um mágico. Nós queríamos entender como funcionava. E, quando vinha a compreensão, treinávamos o truque sem parar… Queríamos ser mágicos. 

Então, tá aí meu conselho final, Vinícius: guiado pela ciência, siga fazendo mágica, para se transformar, a cada jornada, no herói que precisa ser.

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