Mergulhado em ineditismos e incertezas, o ano de 2020 foi sem igual para a TI. O cenário para 2021 continua cheio de incertezas, mas é possível apostar que muitos investimentos, feitos no susto em 2020, serão aprimorados e mais bem inseridos no plano estratégico das empresas em 2021 

 

A pandemia acelerou transformações na TI e mudou a percepção do seu papel dentro das organizações. Diante disso, é razoável pensar que os investimentos em tecnologia, em 2021, obedecerão a novos critérios, diferentes daqueles que antes eram adotados nas organizações.

“O ano de 2020 foi marcado pelo aprendizado, maior entendimento e amadurecimento das corporações sobre o papel da TI, o que vai além da constatação da real importância da tecnologia para a manutenção das operações, significando também a possibilidade de ofertas de produtos e serviços por canais que, anteriormente, eram pouco explorados por boa parte das empresas”, avalia Luiz Monteiro, analista de pesquisa e consultor em serviços de TI da IDC Brasil.

“As possibilidades de IA, analytics e outras tecnologias conjugadas com IOT devem acelerar. Hoje, a agropecuária e a indústria já automatizam e escoam suas produções com maior eficiência utilizando a IOT”, Luiz Monteiro, da IDC Brasil.

A avaliação de Monteiro ajuda a entender porque os investimentos na área tendem a ser amplos, envolvendo desde infraestrutura e arquitetura até soluções de comunicação com o cliente. A própria IDC realizou uma pesquisa (COVID-19 – Impact on IT Spending, ou “Covid-19 – Impacto nos Gastos com TI”) de junho a setembro, que apontou que as principais áreas de investimento para as organizações brasileiras serão nuvem, analytics e segurança. O estudo levantou, ainda, que 42% das empresas investirão, em tecnologia, um valor maior do que o empregado antes da pandemia.

 

Tecnológicos e inteligentes

Confirmando muitas das previsões feitas ao longo de 2020, as soluções de inteligência artificial e analytics, conjugadas com capacidades de machine learning, mostram-se mais presentes no relacionamento das empresas com seus clientes, sejam eles corporativos ou não. As verticais de comércio e financeira são exemplos claros disso; com ofertas baseadas no perfil e preferências do cliente, estão sendo direcionadas de forma mais assertiva e personalizada. 

Em termos de atendimento ao público, Monteiro conta que os BOTs endereçam grande parte das demandas atuais. Para 2021, eles devem seguir aliviando o serviço de atendimento e os custos das empresas, que restringirão o trato humano a casos específicos. “No entanto, as possibilidades de IA, analytics e outras tecnologias conjugadas com IOT devem acelerar. Hoje, a agropecuária e a indústria já automatizam e escoam suas produções com maior eficiência utilizando a IOT”, diz o analista.

De origem neozelandesa, a Fonterra é uma empresa distribuidora de leite e derivados com operações no mundo todo que comprova a afirmação feita por Luiz Monteiro. O brasileiro Leandro Tonon atua como CDO e CIO para as operações da companhia nas três Américas e conta que as tecnologias em questão são utilizadas não somente na área de vendas, mas também em logística e para ganhos operacionais como um todo. “A tecnologia já está se tornando core business em muitas empresas e muitos setores estão se reinventando ao repensar seus negócios de forma mais digital, principalmente para conseguir aumentar sua capacidade de entrega”, diz o executivo.

 


A dança dos orçamentos

Em 2021, o investimento das empresas brasileiras em TI será:

  • maior do que o previsto antes da pandemia: 42%
  • menor do que o previsto antes da pandemia: 36%
  • igual ao previsto antes da pandemia: 22%

FONTE:  COVID-19 – Impact on IT Spending – IDC 


 

Riscos e oportunidades

Os outros dois focos de investimento são nuvem e segurança, vertentes que tendem a caminhar muito próximas, visto que as operações de cloud exigem uma arquitetura de segurança bastante sólida. Esse último, porém, representa um potencial especialmente notável a longo prazo. O Relatório Latin America Cloud Security for Digitized Infrastructure, outro estudo da mesma IDC, publicado em dezembro de 2020, aponta que, hoje, 20% do orçamento para tecnologia é empregado para tornar as redes e a nuvem mais seguras e que, até 2024, esse percentual deve representar 35% do budget total de TI.

“A tecnologia já está se tornando core business em muitas empresas e muitos setores estão se reinventando ao repensar seus negócios de forma mais digital, principalmente para conseguir aumentar sua capacidade de entrega”, Leandro Tonon da Fonterra.

Há, porém, uma questão que pode causar mudanças significativas no cenário, e que diz respeito à conectividade. “O 5G deve ser um divisor de águas”, resume Luiz Monteiro, antes de explicar que “empresas voltadas ao entretenimento e à publicidade devem movimentar o mercado, beneficiadas pelas conexões mais rápidas e estáveis, que poderão ser amplamente utilizadas na entrega de conteúdo, jogos e soluções de realidade aumentada. Para o mercado corporativo, o 5G deve impactar na velocidade para tomadas de decisão baseadas em informações em tempo real, maiores possibilidades de colaboração, performance e governança”.

 

Correção de rota

Porém, há empresas que fizeram grandes investimentos em TI de forma emergencial para reagir aos primeiros meses da crise e os desdobramentos não foram exatamente aqueles que tinham sido previstos. “Foram decisões tomadas de forma mais emocional do que racional, em razão da pressão e da dificuldade de vislumbrar, naquele momento, o futuro mais provável das operações com a pandemia. Assim, muitos investimentos foram feitos sem planejamento a longo prazo nem uma visão clara do ecossistema. Nessas circunstâncias, é preciso fazer uma reavaliação, caso a caso, e readequar os investimentos considerando quanto foi empregado de tempo e recursos versus o resultado esperado”, completa.

Para Tonon, em alguns casos, vale a pena realizar o prejuízo e tentar otimizar os investimentos feitos. Luiz Monteiro concorda. “Novos ativos e serviços podem, agora, avançar na busca pela integração e por maior eficiência operacional e financeira dessas estruturas, que migraram em direção a um mix de ambientes composto por data centers próprios ou terceirizados, clouds privadas e públicas”, diz.

Dessa forma, o cenário de revendas e canais pode encontrar uma oportunidade no entendimento dos desafios do cliente que está nesta situação, oferecendo-se para atuar junto com ele na avaliação das melhores formas de aproveitar os investimentos já realizados, por meio de consultorias e treinamentos.

Seja na readequação daquilo que já foi contratado ou adquirido, seja na realização de novos investimentos, o momento é de repensar e revisar o portfólio de projetos para 2021. “É muito importante estar conectado com o negócio para revisar o plano estratégico da empresa e certificar-se de que as prioridades ou os principais drivers da empresa continuam os mesmos ou se haverá a necessidade de ajustes. Também é muito importante repensar os skills necessários. Treinamento e capacitação serão chaves para o desenvolvimento e crescimento das empresas e profissionais”, pondera Leandro Tonon.