Nesta “Carta ao Meu Futuro Eu”, o CEO e cofundador da integradora Rox Partner resgata seus anos de formação e mostra o quão importante é preservar, na lembrança, o alicerce da própria história para fazer com que sua carreira e sua vida pessoal não entrem em rota de colisão 

por Marcos Teixeira*

Meu brother Marcos,

Se você está lendo isso em 2030, como é minha intenção, saiba que 10 anos se passaram desde que eu me dei uma pausa pra olhar pra minha vida e entender o que eu queria de verdade para o meu futuro – aliás, nosso, já que somos a mesma pessoa. Espero que você não tenha mudado tanto a ponto de não se parecer mais comigo, porque o sucesso do nosso futuro depende de algo que construímos muitos anos atrás.

Lembra quando você saía da Vila Nova York, extrema Zona Leste de São Paulo, ainda de madrugada, para chegar em tempo no seu trabalho no Aeroporto Internacional de Guarulhos? E depois disso, ainda tinha outra jornada de GRU para o bairro da Mooca, onde você cursava a faculdade de Processamento de Dados? Eu nunca me esqueci. Era uma época – lá no comecinho dos anos 2000 – de dormir em média três horas por noite, com alguns cochilos no ônibus, quando a viagem não era tensa demais.

Calma: estou pedindo para você lembrar disso não porque eu acho que, no futuro, você vai viver isso de novo. E sim porque a nossa cabeça estava bem certa do que fazia. Sabe, se eu pudesse voltar no tempo até 2010 e conversar com aquele Marcos jovem, eu só diria uma coisa: 

“Continua. Segue o que você tem na cabeça e se mantenha nessa toada. Porque esse caminho vai te levar a uma esposa maravilhosa, três filhos bacanas e uma empresa de TI fundada junto com seus amigos, que vai se tornar conhecida e respeitada no mercado.”

Ser empresário exige muito de você, imagino, porque exige muito de mim, hoje. Porém, jamais pode exigir tanto a ponto de esquecermos quem somos.

Não preciso te contar o que é a Rox Partner, já que você é um dos fundadores. Mas acho importante te lembrar que, quando você lançou as bases para a empresa junto com seus parceiros, a ideia era trabalhar com liberdade e prazer. Vocês quatro viam que muitas consultorias do mercado não evoluíam. Parecia que já tinham gastado todo seu fôlego e não acompanhavam as dinâmicas novas de mercado. Essa indisposição lhes frustrava e dava uma baita vontade de fazer algo diferente. De sair e arriscar.

Vocês correram o risco. Era uma época em que seis em cada dez empresas no país fechavam em menos de cinco anos a partir da abertura – esse número é de um levantamento do IBGE da época, não tirei da cartola, não! Se desse errado, o dano seria grande. Todo mundo já tinha família… Mas era a única forma de fazer o que precisava ser feito para ter uma carreira honesta com o íntimo de cada um.

Naquele período, poucos falavam em empreender. Por sorte, a gente teve aquele professor na faculdade que dizia não querer formar funcionários, mas empresários. Isso nos inspirou. Não era algo comum na época, mas a verdade é que, depois que um profissional de TI passa anos trabalhando em uma consultoria, como foi nosso caso, só há dois passos possíveis: tornar-se um megaespecialista ou partir pro empreendedorismo, usando o que aprendeu em anos de mercado.

Depois de tantas lições boas e ruins, tantos momentos intensos para o bem e para o mal, a Rox nasceu. Em 2020, com dois anos de empresa, ela já estava bem posicionada e tinha crescido muito. De uma equipe de quatro pessoas – os sócios-fundadores – havíamos saltado para uma empresa de 27 funcionários. E seis sócios, porque outros dois amigos se juntaram na empreitada. Tudo isso em dois anos!

Resgata aquela mentalidade de quando você se equilibrava entre um emprego em Guarulhos, uma faculdade na Mooca e uma casa na ‘periferia da periferia’, porque era uma época em que quase tudo de importante estava presente.

Teve de tudo nessa história, até aquelas situações tão fora da curva que não tinha como prever. Como esquecer daquela vez em que fomos procurar um appliance que o cliente “perdeu” em meio ao próprio centro de distribuição? O técnico que ia instalar o equipamento queria desistir, ir embora, e nossa resposta foi: “eu vou achar essa birosca” (risos). A gente até subiu na empilhadeira para procurar… e encontrou! Com bom humor, disposição e dedicação, a gente resolvia tudo. 

Mas se eu estou parando para escrever uma carta para você, mesmo sabendo que quase ninguém mais escreve cartas, é porque tenho uma mensagem muito importante. Uma parte dela eu já entreguei, mas vou dizer de novo: resgata aquela mentalidade de quando você se equilibrava entre um emprego em Guarulhos, uma faculdade na Mooca e uma casa na “periferia da periferia”, porque era uma época em que quase tudo de importante estava presente: a vontade de aprender, a falta de preguiça para correr atrás do que importava e a curiosidade pelo novo.

Só faltava a família. Que você conseguiu alguns anos depois. E hoje, quando eu escrevo isso, meu foco é justamente lembrar que o valor está na soma dessa paixão individual pelo conhecimento e do amor pela família. Estou até fazendo um curso de administração de tempo e espero que tenha aprendido bem as lições. Se não aprendeu, resgate os PDFs do curso e as suas anotações. 

Não perca tempo, Marcos do futuro, trabalhando demais. Ser empresário exige muito de você, imagino, porque exige muito de mim, hoje. Porém, jamais pode exigir tanto a ponto de esquecermos quem somos.

Eu quero que você, Marcos do futuro, encontre leveza quando olhar pra trás. Quando olhar pros últimos 10 anos, espero que você possa falar: deu certo

Você conquistou liberdade no seu trabalho, mas não deixe que o trabalho tire outras liberdades que você tem: a de brincar com seus filhos e seu cachorro, a de rir com sua mulher, e a de curtir o que você faz. Isso quase aconteceu comigo, e eu não quero que minha vida seja assim no futuro.

"Meu foco é justamente lembrar que o valor está na soma dessa paixão individual pelo conhecimento e do amor pela família", Marcos Teixeira, CEO e cofundador da integradora Rox Partner
“Meu foco é justamente lembrar que o valor está na soma dessa paixão individual pelo conhecimento e do amor pela família”, Marcos Teixeira, CEO e cofundador da integradora Rox Partner

O universo de negócios pode ser maçante e tenho certeza que esses momentos chatos continuam existindo no futuro. Mas a gente não escrevia posts bem-humorados nas nossas redes sociais por nada. Tirávamos sarro do excesso de trabalho e, principalmente, do excesso de seriedade do trabalho.

Trabalhar na Rox Partner é uma curtição e um privilégio. Ter essa família é um prazer enorme. Por isso eu quero que você, Marcos do futuro, encontre leveza quando olhar pra trás. Quando olhar pros últimos 10 anos, espero que você possa falar: deu certo. 

Eu acredito que você vai poder dizer isso… Mas para conseguir falar de verdade, você não pode se esquecer daquele rapaz de 20 anos cheio de vontade, nem do pai e marido de 40, feliz com a vida familiar. Eles apontaram o caminho. Espero que você tenha seguido nessa trilha, sempre se antecipando ao hype e sempre cercado de gente fera, que te ensina muito e que encontra motivação em você. Porque isso é algo de que eu, hoje, me orgulho, e espero que você continue cultivando isso.

Um grande abraço, Marcos do futuro. Espero que as bases que estou deixando para você te conduzam à felicidade.

* Marcos Teixeira é CEO da Rox Partner

entrevista realizada por Leonardo Vinhas