Da vacinação ao atendimento nos hospitais, a tecnologia da informação tem sido fundamental na luta da ciência contra a covid e para restabelecer o tão essencial contato físico entre as pessoas. 

Vestindo uma camiseta azul com estampa de pinguim e uma inscrição desejando Feliz Natal, Margaret Keenan percorreu, de cadeira de rodas, o longo corredor até a imunização. A idosa britânica de 91 anos incompletos foi a primeira pessoa do mundo a tomar uma vacina para Covid numa campanha de imunização. De lá para cá, bilhões de doses já foram aplicadas cerca de 350 milhões delas só no Brasil. 

A imunização contra covid é uma conquista gigantesca da ciência. Do dia 11 de março de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia e o mundo inteiro se fechou, até 8 de dezembro do mesmo ano, quando Margaret recebeu sua dose, foram duzentos e setenta e dois dias, pouco menos de nove meses.

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“Nós ajudamos os hospitais na tarefa de equacionar suas demandas. Com essa organização, começamos a ter menos desperdício de material e a ter mais velocidade de atendimento”, André Pimentel, do grupo Tecnoset.

Mas esse não foi o único avanço científico espetacular catalisado pela pandemia: também mudaram os tratamentos, os processos, a velocidade de atendimento em hospitais e muito mais. Conquistas que envolveram diversas áreas, da biologia à farmácia e que tiveram uma grande contribuição da TI. 

 “A computação consegue prover velocidade à inovação”, explica Mario Adolfi, CEO da Kidopi, empresa de soluções em informática médica e sediada em Ribeirão Preto. Segundo ele, a tecnologia foi usada para resolver muitos dos problemas causados pelo aumento repentino da demanda médica. “Assim, foi possível estratificar o risco populacional de comorbidades e conseguimos fazer um direcionamento de manutenção daquele paciente que foi identificado com determinado risco, sem precisar de internação, fazendo o monitoramento em casa.” 

Ao longo da pandemia, a Kidopi fez telemonitoramento em cidades de São Paulo, como Barretos, e também no Rio Grande do Sul, o que possibilitou uma reabertura mais segura, em especial para pessoas mais vulneráveis ao vírus.

Segurança do paciente

André Pimentel, sócio-diretor do grupo Tecnoset, relembra os primeiros dias de pandemia, quando a necessidade de leitos subiu rapidamente e tudo era muito mais incerto: ninguém sabia quanto tempo aquela situação iria durar, o uso de máscaras não era realidade e várias cidades começaram a erguer, às pressas, hospitais de campanha. 

Neste contexto, foi necessário buscar soluções combinadas para aliviar o serviço nos hospitais. No caso da Tecnoset, a saída envolveu o uso de tecnologias simples, mas que fizeram a diferença: etiquetas inteligentes e wi-fi. Na primeira situação, o paciente circula com uma etiqueta que transmite informações para o sistema do hospital, que pode então gerenciar melhor a demanda. Numa comparação bem simplificada, a lógica é parecida com a tecnologia que permite que você passe por um pedágio sem parar, ou seja, traz ganho de tempo. 

O sistema público é capaz de mandar e-mail e notificação para te lembrar que chegou o dia da vacina. A tecnologia foi fundamental para que o País conseguisse aplicar tantas vacinas e de forma tão rápida

O wi-fi também é importante… “O paciente chega ao hospital com sintomas de Covid. Se ele é recebido no processo convencional, aí tem que pegar senha, tem fila, triagem, atendente… Agora, imagina um paciente que chega e, no momento que entra no hospital, com o wi-fi e o celular ele já é identificado, já começa a receber instruções no próprio telefone. Quando vai para a triagem, o sistema do hospital já tem as informações que precisa: se é um paciente novo ou não, qual o plano de saúde, se tem comorbidades…”, explica Pimentel. 

Segundo ele, essa tecnologia acabou incorporada aos processos de triagem e identificação de pacientes em muitos hospitais e não apenas nas alas de Covid. Ele faz um paralelo com o home office, que afetou a rotina de muitas empresas que ainda não estavam preparadas para o trabalho remoto, mesmo que a tecnologia já existisse. “Nós ajudamos os hospitais na tarefa de equacionar suas demandas. Com essa organização, começamos a ter menos desperdício de material e a ter mais velocidade de atendimento”, completa, destacando que o número de erros também diminuiu. 

Tudo isso contribuiu para que hospitais registrassem uma melhora nas metas internacionais de segurança do paciente. Definidas pela OMS, elas envolvem identificar corretamente os pacientes, melhorar a comunicação, a segurança no uso de medicamentos e em cirurgias, a higienização e a redução do risco de quedas e de lesões por pressão. 

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“Foi só com o apagão dados que as pessoas perceberam o quão somos dependentes dessa infraestrutura. E que é responsabilidade das empresas e governos proteger os nossos dados”, Jeferson Propheta, da CrowdStrike

A TI na imunização 

No país, a presença mais evidente da TI na imunização está no aplicativo Conecte SUS, que traz informações de todos os brasileiros que foram vacinados: dia da aplicação, marca da vacina, lote, código do vacinador e o endereço do estabelecimento de saúde. Todos esses dados são reunidos pelo aplicativo, que emite um comprovante de vacinação. Um documento cada vez mais exigido, seja para participar de eventos, frequentar estabelecimentos ou até para viajar ao exterior.  

“O sistema de vacinação é totalmente organizado”, diz André Pimentel, comparando a imunização brasileira com nosso processo eleitoral, que também se destaca pelo uso da tecnologia. “Além disso, o sistema público é capaz de mandar e-mail e notificação pra te lembrar que chegou o dia da vacina. Então a tecnologia foi fundamental para que a gente conseguisse aplicar tantas vacinas, de forma tão rápida e tão individualizada”, defende. 

O ataque que derrubou o principal sistema do Ministério da Saúde, provocando um apagão de dados   e isso justo no momento em que a variante Ômicron mudava a cara da pandemia no mundo   é outro lembrete da importância da tecnologia da informação, mais especificamente em relação à segurança dos dados.

Jeferson Propheta, Country Manager Brasil da CrowdStrike, empresa norte-americana de segurança cibernética e que trabalha na proteção de dados de vários clientes, entre eles laboratórios farmacêuticos, explica melhor. “Foi só com o apagão dados que as pessoas perceberam o quão somos dependentes dessa infraestrutura. E que é responsabilidade das empresas e governos proteger os nossos dados”, aponta Propheta.

Para ele, o desafio da proteção de dados aumentou na pandemia porque muitas empresas colocaram suas informações na nuvem. Paralelo a isso, os funcionários saíram do perímetro de segurança das empresas e passaram a trabalhar de casa. Acrescente na equação o valor alto do dado médico no mercado clandestino e fica claro o risco de ataques. 

“A grande maioria dos grupos que executaram ataques nessas empresas, buscando por dados médicos ou até a própria informação confidencial de vacina, são grupos bastante avançados. Não é uma gripezinha qualquer: são ataques bem direcionados e com o intuito de monetização ou de espionagem industrial. São bastante elaborados, com técnicas avançadas, por isso as empresas adotaram também técnicas avançadas de prevenção”, explica ele. 

Com um apagão de dados, o poder público não consegue programar ações para controlar o avanço do vírus. Ao mesmo tempo, ataques aos sistemas de laboratórios atrasaram a entrega de resultados de testes de Covid, impedindo as viagens ao exterior de muitos brasileiros. “A gente está tão acostumado com a digitalização no nosso dia a dia que só percebe isso quando faz falta”, completa Propheta.

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